Ecovias Raposo Castello investirá R$ 8 bilhões nas rodovias ao longo dos 30 anos de concessão
Concessionária faz parte do Grupo ASTM e iniciou a operação do sistema em março
Desde 30 de março, a Ecovias Raposo Castello administra 92km de rodovias na Região Metropolitana de São Paulo, atravessando 10 cidades, com trechos da SP-280 (Rod. Castello Branco), SP-270 (Rod. Raposo Tavares), SP-029 (Rod. Cel. PM Nelson Tranchesi) e a ligação municipal entre Cotia e Embu das Artes, paralela ao Rodoanel Oeste.
A concessionária foi a vencedora de leilão realizado em novembro do ano passado e tem o compromisso de investir R$ 8 bilhões em obras e serviços, além de outros R$ 3 bilhões relativos a custos operacionais, conforme estimativas do Governo Federal, ao longo dos 30 anos de contrato.
A concessão faz parte do sistema EcoRodovias, a maior operadora de malha rodoviária do país. Controlada pelo Grupo ASTM, que administra 12 concessões de rodovias em oito estados, somando 4,8 mil quilômetros, além de um ativo portuário e uma plataforma logística. O Grupo ASTM é o segundo maior operador de concessões rodoviárias do mundo.
Leia a seguir a entrevista com Igor Freitas, Diretor Superintendente da Ecovias Raposo Castello, que conta os planos da empresa para a nova concessão.
Conexão Construção – Quanto a Ecovias Raposo Castello investirá no Sistema e quais são os principais projetos para a concessão?
Igor Freitas - O investimento ao longo dos 30 anos de concessão será de R$ 8 bilhões em obras. As principais entregas previstas são a implantação de 78 quilômetros de faixas adicionais, sendo 34 km na Raposo e 44 km na Castello; duplicação de 22 km de vias, sendo 5 km na SP-029 e 17 km na ligação Cotia-Embu das Artes; e a construção de 43 km de marginais, majoritariamente na Raposo. Todos esses investimentos estão previstos para ocorrer entre o 3º e o 8º anos da concessão. O contrato ainda prevê a instalação de duas áreas de descanso para caminhoneiros, implantação de 20 outros dispositivos e adequação de outros sete já existentes, a colocação de 32 passarelas e adequação de mais duas e a construção de 42 km de ciclovias.
Conexão Construção – O investimento previsto será realizado com recursos próprios ou por meio de financiamentos?
Igor Freitas - Para os investimentos previstos nesta concessão, além recursos próprios, consideramos na estrutura de financiamento de longo prazo do BNDES, captação de recursos no mercado, via emissão de debêntures, e a própria receita aferida pelas praças de pedágio já instaladas. A estrutura financeira foi meticulosamente planejada e preparada pelo grupo para suprir todas as necessidades atuais e futuras de desembolso e investimentos.
Conexão Construção - A nova concessão faz parte de um grande grupo. Pode citar algum aprendizado ou técnica testados em outra concessão que será aplicado no novo projeto?
Igor Freitas - A EcoRodovias tem 25 anos de experiência em concessões. Só no ano passado, as concessionárias do grupo realizaram R$ 4,4 bilhões em obras rodoviárias, isso demonstra capacidade de execução. Em 2021, a empresa passou a ser controlada pelo grupo italiano ASTM, que é o segundo maior operador de concessões rodoviárias do mundo. As trocas são constantes sobre aspectos de engenharia e tecnologia, além de termos um suporte na avaliação de novos projetos, como foi o caso da Ecovias Raposo Castello. A ASTM também é controladora da Sinelec, multinacional de tecnologia com quem o grupo EcoRodovias tem acordo de cooperação em projetos como a implantação da tecnologia free flow, por exemplo. Todo esse know-how resulta em maior eficiência nos investimentos a serem realizados em novas concessões, caso da Ecovias Raposo Castello. Entre as inovações já aplicadas em outras rodovias do grupo, algumas até de forma pioneira, vamos ter aqui na Ecovias Raposo Castello o pedágio no modelo Free Flow, a pesagem de veículos comerciais na velocidade da via, cobertura de sinal 4G em toda a malha da concessionária e câmeras de monitoramento com detecção de incidentes, por exemplo.
Conexão Construção – O leilão para a concessão foi realizado com projetos básicos ou executivos?
Igor Freitas - O leilão foi realizado pelo Governo do Estado de São Paulo apenas com projeto conceitual. Cabe a concessionária o desenvolvimento de estudos mais aprofundados que irão compor os projetos funcionais e executivos e serão concluídos dentro dos prazos de edital que variam conforme o cronograma de cada obra.
Conexão Construção - Quantos empregos devem ser gerados na fase de realização das obras previstas?
Igor Freitas - A estimativa do governo paulista é que essa concessão gere 8,3 mil empregos diretos e indiretos.
Conexão Construção - Como a nova concessão lida com a questão de falta de mão de obra relatada pelo setor de construção?
Igor Freitas - No que diz respeito à mão de obra para execução das ampliações e outras melhorias, além de trabalharmos com empreiteiras locais, privilegiando trabalhadores dos municípios por onde a rodovia passa, o grupo EcoRodovias tem como acionista uma empresa de engenharia e construção que apoia as concessionárias, especialmente em projetos mais complexos, além de mantemos parcerias sólidas com construtoras de alta capacidade técnica. Em novas concessões como essa, o grupo já faz esse mapeamento prévio de empresas e fornecedores. Também mantemos um banco robusto de fornecedores já previamente qualificados para participarem de nossas licitações. Interessados podem conhecer melhor os critérios e se cadastrar no site da EcoRodovias.
Conexão Construção - As empresas de gerenciamento, projetos e construção já foram definidas?
Igor Freitas - A companhia ainda está em fase de contratação dessas fornecedoras.
Conexão Construção - A nova concessão está situada em uma área metropolitana, com trânsito intenso em área densamente habitada. Como isso impacta a programação de obras?
Igor Freitas - A localização dos trechos concedidos é desafiadora, mas foi levada em consideração ao longo de toda a modelagem de negócio que baseou a proposta da concessionária, que foi contemplada. Desde o primeiro dia do contrato, em 30 de março, as equipes da companhia iniciaram a fase de estudo aprofundado, que servirá de base para os projetos finais das obras, levando em consideração as particularidades e necessidades dessas áreas. Um dos aspectos desses estudos, inclusive, é permitir que as programações das obras sejam feitas levando em consideração os períodos de menor volume de tráfego, de forma a minimizar o impacto para os usuários.
Conexão Construção - A equipe de gestão da obra será mais robusta por conta desse desafio?
Igor Freitas - Grandes desafios exigem equipes mais qualificadas e dimensionadas para atender as demandas.
Conexão Construção - Como a concessionária está planejando a execução das novas marginais na rodovia Raposo Tavares considerando o intenso fluxo de veículos na região e a ocupação do entorno?
Igor Freitas - Os times da concessionária estão, neste momento, na fase de estudos aprofundados, avaliando uma série de fatores, incluindo o perfil de tráfego, para definir os melhores caminhos, soluções com menores impactos e as mitigações necessárias.
Conexão Construção - Quais os principais pontos do projeto na rodovia Castello Branco?
Igor Freitas - Está prevista a implantação de 33 km de faixas adicionais na Castello, 03 novos dispositivos, 01 nova ponte de acesso ao município de Carapicuíba, além da ampliação e modernização de outros 02 dispositivos já existentes e 485 metros de vias marginais. Também haverá construção de 3 novas passarelas e adequação de outras 03. Substituição das atuais praças de pedágio por pórticos de cobrança eletrônica (free flow), entre outras intervenções para aumentar a segurança, o conforto e a fluidez para usuários.
Conexão Construção - Entre as obras, quais são as mais importantes e que trazem algum desafio técnico, de logística ou prazo?
Igor Freitas - O edital prevê uma série de intervenções, sendo algumas delas desafiadoras do ponto de vista técnico e outras do ponto de vista operacional. No primeiro grupo está o túnel sob o bairro do Butantã, previsto no edital e que ligará a chegada da SP-270 Rodovia Raposo Tavares à Marginal Pinheiros. Nesse trecho, há ainda a previsão de instalação de novas pontes sobre o Rio Pinheiros, permitindo conexão eficiente entre a via e a SP-270. Do ponto de vista operacional, há o desafio de duplicação e instalação de marginais em parte dos trechos concedidos que estão em área urbana, e, portanto, demandam muita atenção a detalhes na fase de estudo e cuidado redobrado na fase de instalação e construção. Assim como a construção das faixas adicionais na Castello que conta com um dos maiores VDMs do país.
Conexão Construção - A pavimentação será integralmente refeita? Alguma nova tecnologia será utilizada na aplicação da massa asfáltica ou em sua composição?
Igor Freitas - As intervenções previstas nos pavimentos flexíveis e semirrígidos devem respeitar os ciclos de conserva de parâmetros e reabilitação. Em média o ciclo de reabilitação ocorre a cada 6 anos e entre este período são realizadas intervenções para manutenção dos parâmetros contratuais. O grupo EcoRodovias possui uma área específica responsável por estudar novas tecnologias e uma das iniciativas é a utilização de material fresado na composição do concreto asfáltico, além de outras frentes alinhadas com a pegada de carbono para redução dos gases de efeito estufa (GEE). Com relação a escolha pelo tipo de pavimento, esta decisão deve respeitar os períodos de reabilitação e deve ser pautada após a elaboração de um projeto executivo o qual avalia diversas condicionantes como por exemplo: estrutural, volume de tráfego e viabilidade financeira.
Conexão Construção - Quais as principais alterações em relação à sinalização horizontal?
Igor Freitas - A sinalização horizontal deverá ser mantida em bom estado de forma a atender os parâmetros de técnicos de visibilidade diurna e noturna, exigidos nas normas e que garantem maior segurança aos motoristas.
Conexão Construção – Como funcionará a cobrança de pedágio free flow?
Igor Freitas - Todos os trechos operados pela Ecovias Raposo Castello terão cobrança via pedágio eletrônico em movimento (free flow). Esta tecnologia é composta por câmeras e sensores que permitem detectar e classificar todos os veículos que trafegam na rodovia de forma muito precisa e eficiente, permitindo que não haja alteração de velocidade na via ou restrição física na seção de cobrança. A troca das atuais praças de pedágio manual, na SP-280 (Rodovia Castello Branco), deve ocorrer apenas a partir de março de 2027, quando começam a ser instalados os primeiros portais free flow na via e na SP-029. A instalação de portais na SP-270 (Rodovia Raposo Tavares) deve ocorrer apenas após o 7º ano da concessão, a partir de 2032.
Conexão Construção - Há muitos anos, na época da concessão do trecho inicial da Castello Branco, a cobrança de pedágios na parte urbana da rodovia foi alvo de intensa mobilização contrária por parte da comunidade de entorno. Como a concessionária está planejando lidar com essa possível rejeição relacionada aos pedágios no início da Raposo Tavares?
Igor Freitas - A localização dos pórticos de cobrança foi definida pelo Governo Paulista e busca implementar uma política de justiça tarifária com redução da tarifa de pedágio através de cobrança proporcional à extensão percorrida da rodovia por cada veículo. Além disso, no caso da rodovia Raposo Tavares, serão implantadas novas vias marginais em toda sua extensão onde não haverá cobrança de pedágio. Temos que lembrar também que, desde o primeiro dia de operação, as tarifas das três praças de pedágio do trecho da região metropolitana de São Paulo da Castello tiveram redução média de 30%, além da aplicação de descontos adicionais para pagamentos feitos com tags e para usuários frequentes. Todas essas condições tornam a questão tarifária da Castello muito diversa do que ocorreu à época da concessão anterior.
Conexão Construção - As desapropriações necessárias já foram mapeadas? Caso positivo, o processo é conduzido pela Artesp ou pela concessionária? Esse custo cabe ao poder público ou é absorvido pela concessão?
Igor Freitas - A fase atual do contrato é a de estudos aprofundados que servirão de base para a definição final do projeto executivo, inclusive do traçado final das obras exigidas pelo edital. Embora o trabalho já esteja avançado, ainda é prematuro e, portanto, não seria possível definir essa área. Mas, já podemos ressaltar que a concessionária sempre tem como diretriz minimizar os impactos relacionados às desapropriações. Em relação ao custo, ele é responsabilidade da concessionária até determinado limite, com participação do Estado em casos específicos.
Conexão Construção - Quais são as principais alterações em relação ao projeto original concedido? Foi acrescentado uma ligação da rodovia Raposo Tavares com a avenida São Camilo em troca de uma ligação com as marginais no final da rodovia, na chegada em São Paulo?
Igor Freitas - As mudanças mencionadas foram feitas pelo Governo Paulista e incorporadas no edital sobre o qual a concessionária atua. Não houve participação da empresa nessas definições. A fase atual do contrato é a de estudos aprofundados, que será a base para a elaboração do projeto executivo, incluindo os traçados das novas marginais e da duplicação da rodovia existente.
Conexão Construção – E a nova ligação entre Cotia e Embu? Do ponto de vista ambiental, como a concessionária pretende mitigar o eventual impacto ambiental relatado pela comunidade local?
Igor Freitas - Esse projeto ainda está em fase embrionária, com estudos em andamento sobre traçado, dimensão e infraestrutura. Assim que isso for concluído, passaremos a definir as estratégias e ações de mitigação. Neste momento, porém, ainda é cedo para tratar do tema.
Conexão Construção - O que está previsto em relação ao aparelhamento dos órgãos públicos na região da concessão?
Igor Freitas - A Ecovias Raposo Castello se comprometeu, na assinatura do contrato, a fornecer 44 veículos para a Polícia Militar Rodoviária e já finalizamos a entrega. Foram 32 automóveis e 12 motocicletas. Sobre outros compromissos, estão previstas reformas ou reconstruções em cinco Bases da Polícia Militar Rodoviária.
Conexão Construção - A concessão terá um Centro de Controle Operacional? Caso positivo, onde estará localizado? Alguma nova tecnologia?
Igor Freitas - Sim, a concessão conta com um Centro de Controle Operacional, responsável pelo monitoramento constante dos trechos administrados pela Ecovias Raposo Castello. O CCO fica em São Bernardo do Campo. A concessionária está trabalhando na modernização e ampliação das câmeras da Raposo e da Castello para modelos de última geração, com maior alcance e recursos de Inteligência Artificial (IA) como a Detecção Automática de Incidentes para tornar mais eficiente a gestão de tráfego e do atendimento a usuários.